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Cotidiano Textos

[ um poliglota ]

“Mesmo quando não se fala nada na língua do outro, algumas coisas sempre ficam bastante claras”.

Fila do caixa no Angeloni dos Ingleses. O casal à minha frente, uns 60 anos ambos, conversavam sobre a educação dos brasileiros em contraste com a dos argentinos. Disseram muitas coisas interessantes, mas que não vêm ao caso agora. Depois de atendidos, o senhor disse empolgado à moça do caixa:

– Muchas gracias. ¡Que tenga um buen fin de semana, aunque trabajando!
Ao que ela respondeu:
– Ah, muito obrigado, pra vocês também! Mas melhor trabalhando do que desempregada, né?
Ah, sí, por supuesto. ¡En eso estamos de acuerdo! Hasta pronto.
– Até mais.

É certo que a compreensão que um tinha do idioma do outro, mesmo não falando nada em língua alheia, era ótima, mas uma coisa ficou bastante clara: a cordialidade, como indica a etimologia, vem lá do centro abstrato do músculo cardíaco, e esse, meus amigos, é poliglota bagarai.

By Sandro Brincher

Eu sou aquele que, de fones nos ouvidos, através da janela empoeirada do ônibus, perscruta os paralelepípedos irregulares da calçada de um parque à procura de alguém que tenha, ao resgatar do fundo das algibeiras um maço de cigarros molhados pela chuva que acaba de dar trégua, derrubado um bilhete premiado de loteria.

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