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[ nesse ínterim ]

Minha primeira namoradinha morreu hoje. Talvez ela nem lembrasse mais de mim porque não fui seu primeiro e duvido muito que tenha sido um dos mais marcantes. Eu era jovem, egoísta e ilhado demais para me ocupar em deixar marcas em alguém. O velório está acontecendo a umas três quadras da minha casa, mas não gosto de velórios. Achei mais importante registrar o fato e uma frase que ela disse. “A gente não vai funcionar. Tu é uma pessoa legal, é inteligente, educado, calmíssimo, mas não tem brilho”. Passei a vida correndo atrás disso mesmo sem ter ideia do que se tratava. Um dia, uma namorada disse “O que eu mais gosto em ti é esse teu brilho no olhar. Ele está em tudo que tu faz”. Casamos e ficamos juntos até o dia em que ela morreu, há um par de anos. A primeira e a última se foram. Nada do que aconteceu nesse ínterim foi tão relevante para ser lembrado, exceto os amores – poucos, mas infinitos. O que resta agora é um álbum desbotado, uma música antiga e uma indefinida espera.