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Roteiro para um filme iraniano

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Preciso mesmo ser iraniano pra fazer filmes iranianos? Acho péssimo isso, porque tenho muitas ideias de roteiro.

Pensei num, por exemplo, em que um menino [Ali] perde um pé do tênis da irmã Zahra, aí pede ajuda a outro [que na verdade é uma menina disfarçada] para encontrá-lo. Eles chegam a um vilarejo e encontram um gurizinho [Ahmed] que está procurando a casa de um amigo para entregar um caderno. Enquanto isso, em outro vilarejo, um menino [Nematzadeh] se dá conta, na hora de fazer o dever, que esqueceu o caderno na escola [isso, o mesmo que está sendo procurado na outra vila; altos desencontros]. Fica nervoso e resolve tomar uma água com açúcar. Mal sabia ele que o jarro onde a água era armazenada está rachado e restam apenas alguns goles. Sai em busca de alguém para consertá-lo e esquece dos deveres. Obviamente vai tomar uma camaçada de pau quando o pai chegar. No meio do caminho, encontra Jafar, um órfão que está procurando a irmã Jamal, capturada e vendida como escrava a um príncipe saudita. Jafar está acompanhado de Mehrollah, que não está procurando nada, só está brabinho porque a mãe casou com um tira [no trailer fica melhor “tira” do que policial, né?]. Depois de altas aventuras e muita confusão, os dois grupos se encontram. O moleque dono do caderno ainda está com sede, mas fica por ali mesmo para fazer os deveres. Os demais seguem em frente. No meio do caminho, param numa marcenaria para pedir informações sobre Jamal. Tanto o marceneiro quanto seu recém-chegado aprendiz, Mohammed [isso é um lance meio catártico no meu filme, porque todo mundo acha que todo mundo se chama Mohammed no Irã. Ledo engano!], são cegos. “Não vimos nada”, dizem os marceneiros. Frustrados, saem dali e encontram Youssef, um homem que está maravilhado com a vida. Ele era cego desde os 8 anos, mas fez uma operação e deu tudo certo. “Eu poderia ter visto, porque eu vejo, mas não vi”. Mais à frente, encontram Mahmad, que tenta suborná-los para dar informações. Eles o repreendem e vão embora. Um avestruz passa correndo pelo grupo, que fica sem entender nada, mas continua. Depois de mais aventuras e muito mais confusão, chegam ao alto de um monte no qual há um cara baleado e vestido de papai noel. O jovem Ali pega o par de tênis do morto, vê que é exatamente o seu número, calça-o e sai correndo lomba abaixo por entre uma floresta de oliveiras. Os meninos [incluindo a menina disfarçada] deitam no chão e ficam olhando para o céu, sem tristeza, sem arrependimentos; afinal, a vida continua. A câmera se concentra apenas no menino que corre [e passa pelo avestruz, mas isso não vai aparecer]. Fade out. Créditos.

*  *  *

Se algum dos elementos do meu roteiro para um filme iraniano te agradou, não deixa de assistir aos filmes abaixo.

  • Majid Majidi – Filhos do paraíso http://www.youtube.com/watch?v=cLKINvtbOCw
  • Majid Majidi – A cor do paraíso http://www.youtube.com/watch?v=p1J8aI9UAvY
  • Majid Majidi – Baduk www.youtube.com/watch?v=0KfOI3RUmjI
  • Majid Majidi – Pedar http://www.youtube.com/watch?v=lSjg5o2H9ac
  • Majid Majidi – Entre Luzes e Sombras
  • Majid Majidi – O canto dos pardais http://www.youtube.com/watch?v=xqRmij8swgU
  • Abas Kiarostami – Onde fica a casa do meu amigo? http://www.youtube.com/watch?v=EstZtXbcZHA
  • Abbas Kiarostami – Gozāresh
  • Abbas Kiarostami – Através das Oliveiras
  • Abbas Kiarostami – E a vida continua www.youtube.com/watch?v=HxGEPQ_jPBQ
  • Confusão na Sessão da Tarde – http://www.youtube.com/watch?v=xEGxWJqvG5A
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Dicas (meio vagas) para acabar 2013 pobre, mas feliz

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A Cosac Naify, editora que faz os livros mais lindos do mundo, prorrogou até hoje uma promoção incrível. São mais de 300 títulos com preços de no máximo R$ 19,90. Uma amiga me pediu umas sugestões [nada de teoria, só ficção e afins] e eu fiz uma listinha. É bem superficial, mas queria compartilhar logo que é pra vocês não perderem essa barca. Partiu pobreza.

  • O filho de mil homensValter Hugo Mãe. É um dos meus autores portugueses preferidos da atualidade, mas nunca li este livro especificamente. A máquina de fazer espanhóis, entretanto, li e recomendo veementemente.
  • História do cabelo, O passadoHistória do pranto  – Alan Pauls. Li “A história do pranto” [denso, tenso, experimental, lindo; não recomendável a quem procura um romance do tipo “uma boa história, bem contadinha”; não é desses] e adorei, mas fiquei curiosíssimo com a sinopse de História do cabelo.
  • A brincadeira favoritaLeonard Cohen. O Cohen é tipo um guru indie “avant la lettre”: compositor super celebrado, poeta e romancista. Este aqui ele escreveu em 63, antes de começar a carreira musical.
  • Ligeiramente fora de focoRobert Capa. É um romance biográfico, uma biografia romantizada, como queiram. O cara teve uma vida que por si só já valia a aquisição, mas melhor do que isso é o fato de que ele sabe narrar muito bem essa vida loka que teve.
  • O sonho dos heróisAdolfo Bioy Casares. Ele é o pica das galáxias do romance argentino atual, mas dele eu só li “A invenção de Morel” mesmo [bom pra caralho].
  • Gran cabaret demenzialVeronica Stigger. A Veronica – assim como seu conterrâneo Daniel Galera e mais uma rapeize moderna que tá super badalada na crítica atual –  curte tocar o terror. As histórias são sempre meio absurdas, eróticas, podronas, enfim. Os anões é tudo que eu conheço dela, mas indico este aqui pelo preço mesmo.
  • Sete vidas – sete contos mínimos de gatosHeloisa Seixas. Nunca li os contos dela, mas li O lugar Escuro, romance lindo, angustiante e impossíveldeparardeler, no qual ela conta a história de sua convivência com a mãe [que é acometida pelo Alzheimer]. Curiosidade: ela é casada com Ruy Castro, também escritor [lembra daquelas baitas biografias de Carmen Miranda e Nelson Rodrigues? Foi ele].
  • Nos penhascos de mármoreErnst Jünger. Romance de guerra, a especialidade deste senhor, que foi oficial do exército alemão nas duas guerras e ficou “esquecido” por muito tempo por conta disso. Sua literatura, entretanto, não é um elogio ao nazismo. Li há poucos meses, por indicação do Giovani [bibliotecário da BU/UFSC e a pessoa que eu conheço que mais lê “Literatura mesmo”, Tempestades de aço, que é um petardo do mesmo gênero.
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15 livros indispensáveis ou 15 dicas sem compromisso

Muita gente me pergunta sobre os livros de que mais gostei ao longo da vida. Pergunta difícil. Há os que li e reli algumas vezes, que cultuo em segredo, mas que eu não indicaria a muita gente. Há os que eu nem curto tanto, mas que considero leitura obrigatória. Há também os que me proporcionaram boas horas de distração e deleite. A lista abaixo é um pouco desses todos. Já sabemos que muitos vão ser esquecidos, mas o importante é saber os que NÃO seriam esquecidos.

livro [autor] país (obs.):

  1. A Máquina Lírica [Herbelto Helder] Portugal (Li no começo da graduação e me impressionou demais. Foi meu contato mais visceral com poesia até hoje)
  2. Avalovara [Osman Lins] Brasil (Na adolescência, eu lia basicamente só Nietzsche, mesmo sem entender muito, e ocultismo; acabei chegando ao Avalovara por conta da forma como foi organizado o romance, baseado num anagrama bem conhecido dos ocultistas)
  3. Crime e Castigo [Dostoiévski] Rússia (Não vou explicar. Leia imediatamente)
  4. Enquanto Agonizo [William Faulkner] EUA (Primeira cena: O filho marceneiro constrói o caixão da mãe moribunda que, de sua cama, observa o trabalho; tenso…)
  5. Judas, o obscuro [Thomas Hardy] Inglaterra (Poucas histórias de personagens são mais deprimentes que a de Judas; a antítese perfeita do “querer é poder”; o 1ª capítulo, entretanto, é muito divertido)
  6. Lavoura Arcaica [Raduan Nassar] Brasil (Violenta e sensual, essa é a linguagem do Nassar; livrinho pequeno, mas avassalador)
  7. Minha mãe morrendo e o menino mentido [Valêncio Xavier] Brasil (romance, poesia, fotonovela, diário, crônica… um livro fisicamente lindo – o da Cia das Letras – e com uma construção única)
  8. O Menino de Areia [Tahar Ben-Jelloun] Marrocos (“Ele se chamará Ahmed, mesmo que seja uma menina”. Começa assim a história de uma mulher que é criada como homem no seio de uma sociedade muçulmana a fim de que o pai, que nunca teve filhos homens, não deixe a herança de sua família aos irmãos)
  9. O vendedor de passados [José Eduardo Agualusa] Angola (O narrador é uma lagartixa e o protagonista é um angolano albino; digo mais?)
  10. O Vermelho e o Negro [Sthendal] França (Não vou explicar. Leia imediatamente)
  11. As laranjas iguais [Oswaldo França Júnior] Brasil (Primeiro e melhor livro de mini-contos que li)
  12. Quo-Vadis [Henryk Sienkiewicz] Polônia (Primeiro romance que li na vida; trata de uma história de amor em meio à perseguição dos cristãos romanos; este livro consolidou aquela lenda de que Nero pôs fogo em Roma para se inspirar nas composições)
  13. Terra Sonâmbula [Mia Couto] Moçambique (Meu segundo contato com literaturas africanas em Português antes da universidade)
  14. Veinte poemas de amor y uma canción desesperada [Pablo Neruda] Chile (Porque cada vez que eu lia isso pensava: cara… ele deve ter apavorado a mulherada).
  15. Vidas Secas [Graciliano Ramos] Brasil (Por causa da Baleia, né? Dããã)