Sempre ouvi vozes; constantes, sutis, e em uma língua que desconhecia. Num dia de verão até bem alegre, entrei em uma empresa de comércio exterior, ou foi de advocacia, não lembro mais, e folheei a gramática de uma língua estranha. Coincidia ser a das vozes que ouvi todos os dias de minha vida. Imediatamente, entendi-as: descreviam, com detalhamento e precisão, a verdadeira técnica de voar. Deixei cair o livro, fui à janela, olhei para fora e senti um calor enorme, meio que um poder. Abri os braços, mirei o horizonte e mergulhei. O vento batia em meu rosto, uma leveza muita, meu sorriso me cobria inteiro. As pessoas ficaram espantadas: como, num dia de verão assim, até bem alegre, não se deixa sequer uma nota?
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