Eu tinha pouco menos de 6 anos. O circo Vostok, além da grande atração da época, à exceção da minha, não tinha ainda visto qualquer tragédia.
Fui ao banheiro. Sozinho. Não aceitava escolta. Aproximei-me do urinol, ao nível do piso, e baixei as calças. Um homem me olhava. Aproximou-se e disse “não, assim não, vou te explicar”.
Minha mãe me encontrou do lado de fora da lona, chorando baixo, mas não contei o que era. Nunca contei. Não tive coragem. Sentia muita vergonha.
Cada vez que vejo um circo, um urinol ou uma pessoa que explica algo, sinto um pouco daquilo de novo. Esqueço não. Sei que não posso culpar aquele homem que, por pudor, não me ajudou a seguir as instruções verbais que me deu. Não posso culpá-lo nem por aquela vergonha, nem pelas seguintes, de ter molhado as calças ainda várias vezes até adquirir a habilidade de sacar pela braguilha. Naquele circo aprendi a aversão a puras teorias.
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