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Cotidiano Textos

Sobre o Dia das Mulheres: digo nada

CarOs amigOs,
Ontem à tarde, depois de um dia muito trabalhoso, resolvi escrever algumas coisas a respeito do Dia da Mulher e de como não há muito pra se “comemorar” nessa data [há muito, óbvio, para se discutir e sobre o que agir]. Digitei “Mulher no Brasil” no Google e cliquei em “Imagens” buscando algum infográfico, alguma tabela, alguma coisa que ilustrasse de forma objetiva algumas coisas sobre as quais eu queria falar. O resultado foi esse aí embaixo. Aí eu fiz aquilo que de mais prático – mas intelectualmente menos corajoso – eu poderia fazer: resolvi me calar. “Quem sou eu para falar sobre isso? O que eu entendo disso? Os livros que li, as discussões acadêmicas de que participei, as situações que presenciei, isso me autoriza a dizer alguma coisa?”. Sendo assim, não vou dizer nada, absolutamente nada, sobre isso. Façam de conta que não leram nada disto aqui, que não viram esta imagem, que sim, há o que se comemorar, aí passem no shopping, peguem aquela flor que vocês vão ganhar depois de consumir X reais em compras e entreguem às mulheres que amam ou admiram. Mas só a elas, por favor. Nada de entregar às outras, as que vocês não conhecem, as que se vestem de jeito estranho, as que não se dão o valor, as que beijam outras mulheres, as que são feias, as que não se vestem com decência, as que não se depilam, as que ganham a vida com fornicação, as que não acham a maternidade a máxima realização feminina, as que apoiam o aborto (porque, como todos sabemos, quem manda no corpo delas é o Estado),as que insistem em querer invadir espaços que são dos homens por direito (divino, eu ia dizer, mas pareceria que estou ironizando…), enfim, a essas que pensam ou se comportam de forma diferente daquelas mulheres que a tua educação [imune a qualquer discriminação de gênero, credo ou etnia] entende como dignas de homenagem. Entrega a florzinha, olha bem nos olhos dela e diz “Feliz Dia das Mulheres”. Mas, veja bem, não precisa dizer que não é de todas. Só que faz isso logo porque daqui a pouco começa o futebol.
Abraço.

"Mulher no Brasil", primeiros resultados de uma pesquisa no Google Imagens
“Mulher no Brasil”, primeiros resultados de uma pesquisa no Google Imagens

By Sandro Brincher

Eu sou aquele que, de fones nos ouvidos, através da janela empoeirada do ônibus, perscruta os paralelepípedos irregulares da calçada de um parque à procura de alguém que tenha, ao resgatar do fundo das algibeiras um maço de cigarros molhados pela chuva que acaba de dar trégua, derrubado um bilhete premiado de loteria.

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